quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sem café, apenas chá [...]



     Ela tinha um olhar calmo, um gênio persistente, mas uma alma turbada.Talvez já havia tido diversos motivos para ser algo por dentro, aprendendo a ser outra por fora, como se fosse uma casca de proteção.Me surpreendi com ela.
    Enquanto eu a observo, cada detalhe, cada jeito que a torna única, me pergunto, por que até agora ainda não fui lhe pagar um café.Está frio, uma garoa gelada, e minha alma mais solitária do que nunca.As coisas geralmente são mais duras neste horário, nesta época, neste bar.Eu estou aqui pela solidão, pelo resquício de alegria que algum momento poderia me trazer; mas e ela?
     Ela tem uma maneira graciosa de tomar seu chá.Agora já sei que ela não gosta de café, ou pelo menos, não pode lidar com ele, pois todas as vezes que a vi, li em seus lábios quando ela pedia apenas uma xícara de chá, alguns pães de queijo e alguns meros petit's para acompanhar.Todas as vezes, ela traz um livro diferente, talvez livros pelos quais nunca me interessaria em lê-los, talvez eu seja muito simplório para as suas doces literaturas.
     A maneira pela qual ela percorre seus olhos, página por página, me teletransporta para uma brisa calma, meu Deus, o que está acontecendo comigo?Acho que eu a observo tanto, sem tomar o mínimo de coragem de ir até ela, que a qualquer momento, ela se sentirá incomodada, a menos que ela perceba a presença do meus olhos cansados, ansiando pela sua troca de olhares.
     Disse tarde demais.Ela me notou.Ela me notou!O que fazer quando sua respiração está tão tensa, que mal consegue saber onde está?Ela me olhou e sorriu, que sorriso lindo.
     Talvez agora seja o momento de ir até ela, saber seu nome, do que gosta,de lhe oferecer um café.Quero saber de sua vida, por onde andas e por onde já pisou; se dentro de si carrega dores ou amores.
     De repente, me surpreendi, e quando dei por mim eu já estava sentado em sua mesa.Será que ela pensaria que sou tarado, psicótico, assassino?Nem um e nem outro, pois seu olhar estava calmo e sereno, como de costume.Porém desta vez, existia algo a mais, não sei dizer, pois seu sorriso estava um pouco diferente do habitual, ou será que meu nervosismo me bloqueou a ponto de reconhecer a forma que ela sorria?Impossível.
     -É um belo dia para se distrair com um livro e uma xícara de chá.Disse eu, nervoso a ponto de quase gaguejar com as palavras.E eu, justamente eu, que jamais tive medo ou receio de chegar até uma garota.
     -Todos os dias são belos para se fazer muitas coisas, para se distrair com diversas coisas e para se tomar o que vier em sua mente.Disse ela, de uma maneira tão delicada e doce, que mal pude interpretar o que ela me disse.
     Eu tremi.Nunca me senti tão bem caindo de cima de uma precipício.Pode dar a definição que quiser, mas eu estava apaixonado, literalmente apaixonado por ela.Me encantei pelo seu papo, pelo seu jeito, pela sua forma de ver as coisas.
     -Preciso ir, foi bom conhecê-lo, até algum outro momento.Me disse, levantando-se, juntando seu livro, seus doces e me dando as costas.
     -Espere, deixe eu lhe pagar um café! Disse quase desesperado.
     -Não gosto de café, pois assim como sentimentos, quando esfriam, se tornam ruins[...]
      Eu sabia que ela não gostava de café.

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